sexta-feira, 11 de maio de 2012

São Paulo, o Apóstolo e a cidade

Como bem sabemos, no último dia 24 de Junho foi lançado na Sala São Paulo, por ocasião das comemorações dos 2 mil anos de nascimento do Apóstolo São Paulo, o livro ‘São Paulo o Apóstolo e a cidade’.
Com 107 páginas, o livro traz textos assinados por cônego Celso Pedro, padre Ney Souza e Dom Eduardo Uchôa. Os escritos contam a história do apóstolo, a fundação da cidade, a cultura, fé, arte e arquitetura paulistas. A obra foi publicada pela Imprensa Oficial em parceria com a Arquidiocese, responsável pela pesquisa e organização iconográfica. KARL RAHNER E O “CRISTÃO ANÔNIMO”*
Karl Rahner foi o maior teólogo católico da era moderna. Encontrando seu equivalente histórico apenas em Tomás de Aquino, não só seu nome se destaca, mas também parte de sua teologia, sobretudo onde ele trata sobre o Cristão Anônimo. Nosso objetivo aqui não é fazer um estudo sobre a teologia de Karl Rahner. Basta dizermos que seria impossível tratar da teologia vastíssima de Rahner aqui. Visando compreender melhor aquilo que mais trouxe mudança à teologia da Igreja Católica Apostólica Romana no século vinte, fizemos nosso recorte sobre a parte da antropologia de Rahner mais conhecida como a doutrina acerca do “Cristão anônimo”. Após conhecermos o contexto histórico no qual Rahner se encontra, e nos situarmos de modo singelo com o pensamento e posição da Igreja Católica Apostólica Romana quanto à salvação, sobretudo, fora da Igreja, passaremos ao estudo da doutrina dos Cristãos Anônimos. Para compreendermos o que seria esse pressuposto analisado por Rahner, investigaremos as bases de seu pensamento, o eixo sobre o qual toda a teologia rahneriana gira: o existencial sobrenatural. Posto isto, passaremos ao estudo da fenomenologia transcendental, visando compreender a doutrina da graça e da salvação em Rahner. Com isso, poderemos compreender a doutrina acerca dos cristãos anônimos e tudo o que está por detrás dela, que tanto influenciaram e continuam a influenciar a Teologia Contemporânea, sobretudo a teologia católica no século vinte. CONTEXTO HISTÓRICO – AVIDA DE KARL RAHNER Embora ainda seja pouco conhecido no grande círculo da teologia evangélica, Karl Rahner é considerado por muitos como sendo o grande professor e sistematizador da teologia católica no século 20. Seus escritos influenciaram de maneira incrível a teologia da Igreja Católica Apostólica Romana no século vinte, como poucas pessoas a influenciaram séculos passados. Rahner nasceu em Freiburg-im-Breigau (em português Friburgo em Brisgóvia), no estado federal de Baden-Württemberg, na Alemanha, em 5 de março de 1904. Sendo de uma família de classe média e catolicamente bastante devotada, Rahner, juntamente com seu irmão Hugo, tornou-se padre, membro da ordem dos Jesuítas. Sendo designado pela ordem para ser professor de filosofia, Rahner foi enviado para várias escolas. Finalmente, Rahner foi enviado à Universidade de Freiburg, onde ele estudou com Martim Heidegger, famoso filósofo existencialista que muito o influenciaria. Já como professor, Rahner começou sua vida de docência acadêmica em 1937 na Universidade de Innsbruck. Rahner passaria ainda pela Universidade de Munique, onde sucedeu Romano Guardini, e pela Universidade de Münster, onde lecionou teologia dogmática. Karl Rahner foi, segundo David F. Ford, um erudito de primeira classe. Freqüentemente comparado historicamente a Tomás de Aquino, encontra, na percepção de Roger Olson, seu equivalente evangélico no século 20 em Karl Barth, pelo menos em termos de influência e de impacto. Karl Rahner escreveu profusamente. São mais de 3.500 livros e artigos, todos publicados por Rahner enquanto vivia. Além de sua teologia sistemática intitulada Foundations of Christian Faith, Rahner publicou sua Theological Investigations, uma série de multi-volumes cada qual encerrando uma coleção de ensaios topicamente organizados. A POSIÇÃO DA IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA QUANTO À SALVAÇÃO. Desde Cipriano, a teologia oficial da Igreja Católica Apostólica Romana é que não há salvação fora da única igreja visível organizada como Igreja Católica. Tal ponto foi reafirmado pelo Quarto Concílio de Latrão em 1215. Não há salvação em nenhuma outra igreja “rival”. Em 1302, o Papa Bonifácio VIII declarou-o de modo mais preciso através de sua bula intitulada Unam Sanctam, onde se lê: “nós manifestamos, declaramos e definimos que é completamente necessário à salvação para toda a criatura humana o estar sujeito ao pontífice romano [Papa]”. Nos últimos dois séculos esta declaração continua sendo aceita pela Igreja Católica Apostólica Romana, porém, reinterpretada. Em 1854 o Papa Pio IX reafirmou a Unam Sanctam, todavia, com uma modificação vital. Pio IX apontou que, aqueles que são ‘invencivelmente ignorantes’ da verdadeira religião, ou seja, aqueles cuja ignorância não é a sua falta, estão isentos. Em 1949 houve um desenvolvimento adicional que culminou na excomunhão de um padre de Boston, Pe. Feeney. Feeney insistiu em ensinar a visão tradicional. Segundo Lane, no caso do padre Feeney Roma respondeu que a declaração “fora da igreja não há salvação” permanecia verdadeira, mas que era para o magistério, a autoridade doutrinal, moral e intelectual, interpretá-la. Segundo Roma, essa interpretação não deveria ser feita por um indivíduo particular. Em 1953 a controvérsia se arrastou com muita força até que, finalmente, o padre Feeney fosse excomungado como um obstinado de excessivo rigor. O Concílio Vaticano Segundo assim rejeitou a velha interpretação: Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja, procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a salvação eterna. Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem o auxílio da graça, por levar uma vida reta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho, dado por Aquele que ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. O POVO DE DEUS E o que fica dito [a salvação], vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido. A IGREJA E A VOCAÇÃO DO HOMEM Todavia, embora o Concílio Vaticano II tenha dado uma nova interpretação à antiga Unam Sanctam, também teve o cuidado em declarar que, qualquer pessoa que saiba que a Igreja Católica Apostólica Romana foi posta por Deus através de Jesus Cristo como necessária, mas recusa-se a entrar nela ou nela permanecer, não pode ser salvo. Daqui surge o conceito do Cristão Anônimo na teologia de Karl Rahner, o grande teólogo católico pós-Vaticano II, pra não dizer do toda a era moderna. Em sua busca por reinterpretar toda a antropologia, Rahner encontra espaço para a salvação daqueles que, de modo ignorante, mas sem culpa por sua ignorância, desconhece a realidade da Igreja Católica e de Cristo. Se tal pessoa for uma pessoa de bem, cuja vida segue os ditames da consciência, levando uma vida moralmente sadia, que tal pessoa será salva. Daí Rahner desenvolve sua teologia sobre dois pontos fundamentais: o ponto do Existencial Sobrenatural e o ponto da Fenomenologia Transcendental para ‘provar’ filosoficamente que seu ponto acerca do Cristão anônimo procede. È isso que passamos a analisar a partir de agora. O CRISTÃO ANÔNIMO - AS BASES DO PENSAMENTO DE RAHNER Segundo Battista Mondin, o pensamento filosófico de Karl Rahner é totalmente original. Embora tenha agido de modo diferente de Guardini e Teilhard de Chardin, desenvolvendo sua teologia a partir de princípios Aquinenses, Rahner se diferencia de Tomás de Aquino e de sua visão cosmocêntrica. Rahner possui uma forte visão antropocêntrica que é abundantemente aplicada à Revelação. Como nenhum outro antes dele, Rahner lança-se a explorar o mundo da filosofia e da teologia partindo de pressupostos totalmente antropocêntricos. O conceito do “Cristão Anônimo” surge nesse contexto de pensamento. O EXISTENCIAL SOBRENATURAL – A GRAÇA. Aqui encontramos o núcleo de toda a teologia rahneriana. Todo o edifício teológico de Karl Rahner é edificado sobre o mistério da graça que santifica e pode salvar. Graça essa que está no ser sobrenatural de todo homem e mulher. A essa graça Rahner dá o nome de Existencial Sobrenatural. Rahner escolheu a graça como o princípio arquitetônico material para sua teologia. O mistério da graça. Para Rahner a graça constitui o componente essencial e fundamental do ser sobrenatural do homem. Ela está ligada estruturalmente ao ser humano e, por natureza, é inerente e inseparável a todo e cada ser humano que já tenha vivido ou venha a viver. E é justamente em torno desse Existencial Sobrenatural que gira toda a teologia de Karl Rahner, como diz Mondin (1979, p. 109), “da Trindade à encarnação, da Revelação à Igreja, dos sacramentos aos cristãos anônimos”. Tentar aqui expor toda a doutrina da graça, do existencial sobrenatural, como percebido por Karl Rahner, se equivaleria a expor toda a teologia rahneriana. Como isso é impossível devido ao vastíssimo sistema teológico de Rahner e pelos limites dessa monografia, comento a seguir apenas alguns poucos pontos fundamentais sobre o existencial sobrenatural em Rahner. Conforme comenta Battista Mondin, são três as teses mais originais de Rahner sobre a graça: Tal graça consiste na auto-comunicação de Deus; Rahner afirma que a graça não é a comunicação de uma realidade sobrenatural diversa de Deus. Para ele, a graça é a auto-comunicação do próprio Deus. A graça inerente a todo ser humano é uma auto-comunicação de Deus no homem. Rahner assim a afirma: A graça incriada é o início homogêneo, já conferido, ainda que agora esteja escondido e em processo de desenvolvimento, daquela comunicação do ser divino ao espírito criado, que se verifica em uma causalidade formal e é o pressuposto ontológico da visão. Tal graça é dada a todos os seres humanos; Nesse ponto Rahner trata da universalidade da graça (aliás, para Rahner, não somente a graça é universal, mas também a Revelação e a própria fé). Devido à interpretação dada por Rahner ao texto de 1 Timóteo 2.4 (o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade), se entende que a graça é comunicada a todos os homens. E isso se faz imprescindível pelo princípio dogmático da vontade salvífica universal de Deus. Rahner analisa que, devido o espírito do homem estar aberto para o infinito, essa mesma estrutura metafísica do homem o habilita a receber e experimentar a autocomunicação de Deus. Ainda que a pessoa seja ou considere-se um ateu, para Rahner ele não passa de um teísta anônimo. Visto que ajam elementos que o transcendam, elementos nele que o levem a refletir em sua transcendência natural para com o mistério, e uma vez que tal indivíduo se entregue sem duvidar na existência de um Deus (não necessariamente o bíblico que, pressupõe-se, tal pessoa ignora), tal pessoa pode ser salva. Como conseqüência disso tudo, o que se observa é que a graça não seria, para Rahner, restringida apenas aos cristãos declarados, mas que a graça estende-se também à grande massa de cristãos anônimos. Tal graça tem uma prioridade lógica absoluta entre os atos ad extra de Deus; Aqui Rahner trata da prioridade lógica absoluta da graça. Como já temos analisado, a graça possui um lugar de honra, ocupa a primazia no centro da teologia de Karl Rahner. Battista Mondin comenta esse fato dizendo que, “por essa razão, pode ser chamada ‘teologia karicêntrica’ (que tem por centro a graça, Karis). Nela, tudo se funda na decisão divina de alienar-se, comunicando-se em pessoa a um outro ser”. Devido ao conceito da graça como um existencial sobrenatural inerente a todo o homem, Rahner sustenta a salvação universal. Primeiramente, Rahner crê que todo ser humano é receptivo, por natureza, à auto-revelação de Deus em Jesus Cristo. Rahner argumentava também que todos os seres humanos são dotados por Deus com a capacidade de receberem graça. Uma vez que todos possuem o Existencial Sobrenatural (a graça) dentro de si, todos podem ser salvos. Segundo Olson, “quem seguir essa graça interior e sobre ela edificar encontrará a salvação total, independentemente de ter ouvido a mensagem expressa de Jesus Cristo”. Ou seja, é possível que haja salvação, pela graça, e não através do arrependimento e fé no Jesus Cristo ressuscitado, como o Filho de Deus. O existencial sobrenatural concede à humanidade condições para que seja salva partindo de esforços pessoais em se viver de modo moral, de acordo com a lei da consciência. Ressaltando que tal graça de salvar pela ignorância se restringe àqueles que ignoram a Igreja Católica Apostólica Romana e a submissão à autoridade dessa instituição, o sumo pontífice romano. Para Rahner, os “Cristãos anônimos” são aqueles que a seguem e vivem segundo a vontade de Deus, sejam eles batizados ou não, conheçam a Cristo ou não. Na teologia rahneriana a única maneira da pessoa não ser salva é abjurando obstinadamente a oferta da graça de salvação feita por Deus. A FENOMENOLOGIA TRANSCENDENTAL. A fenomenologia transcendental é parte abundantemente comentada na teologia de Karl Rahner. Devido a sua ligação ao Cristão anônimo tanto na receptividade ao conceito de Deus quanto na própria salvação dele, Rahner investe boa parte de seus escritos tentando, filosoficamente, analisar o fato de que em todas as etnias se constata o fenômeno da busca pelo transcendente. A escolha desse nome veio devido ao esforço filosófico de Rahner em mostrar que o ser humano é por natureza espírito. A ‘Reflexão Transcendental’ foi um instrumento filosófico nas mãos de Rahner usado para dizer que os seres humanos estão abertos para receber a revelação. Segundo Rahner, todos os seres humanos estão voltados para a transcendentalidade. É algo inerente ao ser humano voltar-se para o mistério da criação e da imanência. Por causa disso, todos transcendem a si mesmos e a natureza todas as vezes que pensam e questionam os fatos. Segundo Stanley J. Grenz e Roger F. Olson, “demonstrar essa afirmação de modo filosófico foi a grande tarefa de Rahner, aquela que consumiu grande parte de sua energia teológica”. Rahner preocupou-se em chamar a atenção à importância da ânsia do ser humano em transcender os limites da natureza humana, de ir além. Os seres humanos estão cônscios de um sentido de terem sido feitos para mais do que agora são, ou seja, de que há mais além do mundo visível, um mundo, uma realidade que transcende. Embora essa percepção esteja inerente em todo ser humano graças ao existencial sobrenatural, a Revelação Cristã é a única, segundo Rahner, capaz de suprir explicações corretas quanto a esse mais. Em seu livro lançado em 1978, Foundations of the Christian Faith, Rahner aponta uma lista com vários caminhos nos quais esta “transcendência” se mostra. Vejamos duas apontadas por Alister McGrath: 1. O ato de conhecermos um objeto leva-nos a entender que não estamos limitados ao objeto em si, pois o conhecimento dele nos leva ao questionamento do que está além dele. 2. A busca humana por significado nos presenteia com um paradoxo, no qual nós entendemos que somos radicalmente finitos por um lado, e por outro lado nós temos questões ilimitadas. Embora nós sejamos finitos e limitados, experimentamos a esperança por uma plenitude absoluta de conhecimento. Por fim, Rahner preocupa-se em mostrar que, embora sejamos limitados e finitos, possuímos um forte senso de algo que é transcendente, de algo que vai além de tudo quanto conhecemos e constatamos. É exatamente por isso que a teologia de Rahner é voltada em grande medida para a antropologia e trata dela como de fundamental importância. A busca do homem por um significado final levanta a questão de Deus, e só é totalmente satisfeita quando aquele que é Deus se deixa encontrar. A fenomenologia transcendental e a salvação do cristão anônimo. O raciocínio de Rahner quanto à salvação do cristão anônimo se dá da seguinte maneira: todos os homens são implicitamente cristãos (anônimos), uma vez que todos apreendem tacitamente o Deus da Revelação através da apreensão do ser. O cristão anônimo não é salvo por sua moralidade natural e intrínseca, mas porque ele experimentou a graça de Jesus Cristo mesmo sem saber que o fazia. Aqui Rahner faz uma diferenciação entre fé explícita e fé real não articulada. Nesse sentido Rahner argumenta em Theological Investigations: O ‘Cristão anônimo’, em nosso sentido do termo, é o pagão após o início da missão Cristã, que vive no estado da graça de Cristo através da fé, da esperança e do amor, ainda que não tenha tido nenhum conhecimento explícito do fato de que sua vida é orientada na graça dada para a salvação para Jesus Cristo… Deve haver uma teoria cristã para responder pelo fato de que todo indivíduo que não age em nenhum sentido absoluto ou último contra a sua própria consciência pode dizer e diz em fé, esperança e amor Abba dentro de seu próprio espírito e é, sobre estas bases, em toda verdade, na visão de Deus um irmão aos Cristãos. Assim como exposto por Rahner, suas idéias são muito influentes em nossos dias. De modo especial o conceito de que alguém pode ser um Cristão anônimo sem nenhum tipo de envolvimento ou compromisso religioso. Segundo Lane, o Cristão anônimo é alguém que ‘o aceita em uma decisão moral’, até mesmo se aquela decisão não foi feita em um sentido religioso e teísta. Assim Rahner diz: A pessoa que aceita uma demanda moral de sua consciência como absolutamente válida para ele e a abraça de tal forma num livre ato de afirmação – não importa quão irrefletido – declara o absoluto ser de Deus, quer ele conheça ou o conceitua quer não, como a velha razão, por que pode haver tal coisa como uma demanda moral absoluta de qualquer modo. A fenomenologia transcendental e a receptividade humana a Deus Rahner, em sua teologia antropocêntrica vai tentar provar que, todos os seres humanos são receptivos a Deus e só encontram realização pessoal no relacionamento com Deus por meio de Jesus Cristo como Salvador. Segundo Rahner, essa receptividade natural do homem a Deus é devido ao existente sobrenatural que há em todos os seres humanos, a graça. Assim se dá sua linha de raciocínio: Deus deseja que todos devam ser salvos (1Tm 2.4), e fé em Cristo é necessária para a Salvação. Por isso, todos podem crer. Uma vez que a graça de Deus está em todos os homens, até que o homem ou a mulher sejam efetivamente impactados pelo Evangelho. Rahner dizia que a graça de Deus (o existencial sobrenatural) está operando até mesmo nos ateístas, os quais podem possuir fé, esperança e amor, embora continuem sendo ateus. Dizia Rahner, “até mesmo um ateu…. não está excluído de possuir a salvação, dado que ele não tem agido contra sua consciência moral como um resultado de seu ateísmo”. Battista Mondin argumenta que, para a teologia rahneriana, quem não conhece a Revelação histórica e não dá assentimento à Igreja Católica Apostólica Romana, e aos seus sacramentos, mas que se aceita a si mesmo e que procura agir e viver de acordo com a sua própria consciência e com todas as determinações que Deus lhe deu, mesmo sem saber, tal pessoa possui a fé cristã. Segundo Rahner, a própria fé salvadora. Toda essa atração quanto ao sobrenatural se dá devido àquilo que é chamado por Karl Rahner de Fenomenologia Transcendental. Ou seja, é possível ser salvo sem jamais saber quem foi Jesus Cristo. Como já analisei, fé, para Rahner, é tanto universal, quanto são universais a graça e a Revelação. CONCLUSÃO Concluindo, desejo enfatizar dois pontos assim como são enunciados no título dessa monografia. O primeiro é sobre a obra e influência do teólogo alemão, padre jesuíta, Karl Rahner sobre a teologia católica no século vinte. Embora Rahner tenha sabido como acolher em seu sistema filosófico todos os conceitos chaves da filosofia alemã (o conceito transcendental de Immanuel Kant, o conceito de alienação de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, o conceito existencial de Martin Heidegger e a orientação antropocêntrica do pensamento moderno), ele não deixou de se inspirar em alguns princípios de Tomás de Aquino. Ninguém é capaz de discutir sobre o profundo e duradouro impacto de sua teologia sobre a teologia contemporânea e sobre, especialmente, a própria teologia da Igreja Católica Apostólica Romana. Grenz e Olson afirmam que “é possível que Rahner tenha oferecido o maior impulso e direcionamento desde Tomás de Aquino, durante o século 13, para uma renovação fiel da teologia católica”. O segundo ponto que desejo enfatizar é sobre o impacto da doutrina da graça em Rahner, sobretudo em sua aplicação aos Cristãos Anônimos. A idéia do Cristão Anônimo e de que, fora da Igreja Católica Apostólica Romana pode haver salvação, foi uma reinterpretação radical da antiga bula do Papa Bonifácio VIII, a Unam Sanctam, onde se declara que “é completamente necessário à salvação para toda a criatura humana o estar sujeito ao pontífice romano [Papa]”. Por trás de toda a teologia que abraça a idéia do Cristão Anônimo, o existencial sobrenatural, e a fenomenologia transcendental, percebe-se que a motivação que percorre por todos os seus escritos é o mistério. Segundo Justo Gonzalez, o mistério torna o teólogo cheio de reverência ante o estudo da teologia. Mas este mistério, “longe de ser uma desculpa para a indolência intelectual ou para um obscurantismo fideísta, é um chamado para o estímulo e para a reflexão”. E Rahner foi alguém que saio serena, contudo, obstinadamente atrás desse mistério. Em uma de suas afirmações em Foundatinos of the Christian Faith, Rahner define sua busca: A antiga teologia da fé sempre soube que trazer o simples ou o não-educado à fé, través de uma adequada reflexão sobre todos os fundamentos da credibilidade intelectual não é possível e não é necessário. Então eu gostaria de formular que, na situação de hoje, todos nós, com todo o nosso estudo teológico, sejamos e permaneçamos inevitavelmente simples em um certo sentido, e que nós o admitamos francamente e corajosamente para nós mesmos e também para o mundo. Sem dúvida, há beleza em todo o relato de Rahner. Contudo, muitos entendem que ele não tenha conseguido resolver o dilema da transcendência e da imanência. Muitos o vêem como se estivessem olhando para um panenteísta devido a toda sua especulação metafísica, na qual Rahner deixou pairar ao fundo a impressão de uma certa interdependência panenteísta entre o próprio Criador e toda a sua criação. Conforme nos sugere Tony Lane, talvez a grande fraqueza da teologia de Rahner tenha sido transformação de uma possibilidade excepcional (a de que alguém que não tenha ouvido o evangelho possa estar em um estado de graça) em uma norma – de modo que a Igreja devesse tratar a todos os seres humanos como Cristãos anônimos, embora todos os caminhos dentro das Escrituras Sagradas tendem a tratá-los não como cristãos, mas como pessoas que estão perdidas. Karl Rahner morreu em Innsbruck, Áustria, em 30 de março de 1984 com 80 anos de idade. Ele foi, sem sombra de dúvida, o grande teólogo católico romano de sua geração. Nenhum outro teólogo influenciou mais a teologia católica romana do século 20, e talvez de toda a era moderna, do que ele. *Wilson Porte Jr.

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